quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Parte 2.3: A cadeia de valor mundial de energia solar fotovoltaica

Históricos dos investimentos

NO MUNDO

Os investimentos globais anuais em energia renovável cresceram rapidamente de US$ 62 bilhões em 2004 para US$ 287,5 bilhões em 2016. Apesar do forte crescimento histórico, houve uma queda de 18% nos investimentos totais de 2016 em comparação com 2015. A principal razão dessa queda foi a rápida redução no preço dos equipamentos das diferentes fontes renováveis, especialmente solar fotovoltaica. Além disso, a desaceleração da economia chinesa foi outro importante motivo.


A fonte solar é a que mais cresce no mundo e, em 2016, isso não foi diferente, atraindo o maior volume de investimento dentre todas as outras fontes de eletricidade, US$ 116 bilhões. No entanto, a fonte apresentou um volume de investimento 32% menor em 2016, se comparado com o ano anterior, especialmente devido à queda no custo por MW da tecnologia. A Bloomberg estima que um recorde de 70 GWac de projetos de energia solar fotovoltaica foram instalados no mundo em 2016, comparado com 56 GWac em 2015 (BNEF, 2017c).

NO BRASIL

No Brasil, os investimentos em energia renovável atingiram seu pico em 2008, com US$ 12,3 bilhões, durante o auge dos investimentos em bioenergia no país. Desde então, os investimentos no país têm oscilado entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões por ano, concentrados no segmento de energia eólica. Em 2016, os investimentos em energias renováveis no Brasil caíram 5% para US$ 6,8 bilhões (BNEF, 2015c, 2016b e 2017b), especialmente devido à valorização do dólar.



Quanto ao segmento solar fotovoltaico, os investimentos crescem historicamente, inclusive em 2016. Saíram de poucos US$ 6 milhões em 2009 para US$ 562 milhões em 2015, finalmente atingindo o recorde de US$ 985 milhões em 2016.

Projeção de investimentos

GERAÇÃO CENTRALIZADA

O panorama é extremamente positivo para o segmento solar fotovoltaico no longo prazo no Brasil. No entanto, para os projetos vencedores dos quatro leilões que totalizam 2.745 MWac, paira um cenário de dúvida quanto a quais projetos serão efetivamente construídos e, daqueles construídos, quais serão entregues no prazo. Considerando essas incertezas de curto prazo e o fato da EPE ter postergado a publicação do “Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2025”, optou-se pela elaboração de três projeções: (i) projeção considerada como Projeção Base; (ii) Projeção Otimista; e (iii) Projeção da ANEEL em conjunto com a EPE.

Projeção Base

A Projeção Base foi realizada com base nos projetos já vencedores de leilões, sua probabilidade de entrada em operação comercial, e na contratação por leilões futuros a partir de 2017. Como o 2º LER de 2015 prevê prazo de início de operação em novembro de 2018, assumiu-se que a totalidade desses projetos serão construídos e entrarão em operação no prazo determinado pelo contrato. Quanto aos demais três leilões, que totalizam 1.815,8 MWac, assumiu se que: 1.019 MWac serão construídos e entregues no prazo; 237 MWac serão construídos, porém entregues com atraso (no ano seguinte); e 560 MWac não serão construídos. Essas premissas foram definidas com base na análise da CELA a partir de dados públicos.

Dado que os dois leilões com participação da fonte solar fotovoltaica previstos para o ano de 2016 foram cancelados pela ANEEL, essa projeção não considera qualquer capacidade instalada entrando em operação no ano de 2019. Caso ANEEL promova leilão em 2017 para início de operação em 2019 ou caso parte dos 1.233 MWac estimados pela CELA para entrar em operação em 2018 atrasem, então seria aplicável assumir que alguma potência entre em operação no ano de 2019, porém esse cenário não considera essa possibilidade.

Para os novos leilões da ANEEL, estimou-se que no ano de 2017 serão contratados 417 MWac ou 500 MWp. Em 2018 em diante, esse volume cresceria para 884 MWac, equivalente a mais de 1 GWp e, entre 2019 e 2023, esse número cresceria à taxa de 5% ao ano, em razão da expansão de demanda de energia e da crescente fatia de mercado da fonte solar fotovoltaica. Por fim, a partir de 2023, seriam contratados volumes de energia de acordo com as projeções da Bloomberg New Energy Finance.

Projeção Otimista

A Projeção Otimista assume que os 560 MWac do LER 2014 classificados como não construídos na Projeção Base sejam construídos, assumindo que não se apliquem penalidades de atraso de construção a ser cobradas pela ANEEL. Adicionalmente, 80 MWac, que na Projeção Base estavam classificados como construídos, porém com atraso na data de entrada em operação, entrariam em operação na data estimada pelo contrato de compra de energia elétrica, também conhecido como PPA. 

Para os novos leilões da ANEEL, estima-se nesse cenário que no ano de 2017 serão contratados 833 MWac. Em 2018, é considerada a contratação de 1.250 MWac e a partir de 2019 esse número cresceria à taxa de 5% ao ano, devido à expansão de demanda de energia e fatia de mercado da fonte solar fotovoltaica.

Projeção ANEEL e EPE 

Por fim, a Projeção ANEEL e EPE toma como base para a entrada em operação comercial dos projetos já contratados em leilão o status do relatório “Acompanhamento da Expansão da Oferta de Geração de Energia Elétrica” de fevereiro de 2017, publicado pela ANEEL (ANEEL, 2017a). Para as projeções de contratação a partir de 2017, a estimativa é baseada no relatório da EPE “O compromisso do Brasil no Combate às Mudanças Climáticas: Produção e Uso de Energia”, publicado em dezembro de 2016 (EPE, 2016d).

Como o relatório da EPE mencionado não apresenta projeções ano a ano, além do fato de que as projeções foram realizadas somente até 2030, foi estimado crescimento linear anualmente e que esse crescimento seja mantido de 2030 em diante nas projeções até o ano de 2040.

A seguir, neste estudo, apresentamos um gráfico comparando os três cenários. A Projeção Base estima que o ano de 2017 tenha 1,0 GWac de capacidade instalada, e que sejam atingidos 27,5 GWac em 2040. A Projeção Otimista estima que o ano de 2017 tenha 1,1 GWac de capacidade instalada, e que sejam atingidos 44,9 GWac em 2040. Por fim, a Projeção ANEEL e EPE estima que o ano de 2017 tenha 0,3 GWac de capacidade instalada, e que sejam atingidos 35,0 GWac em 2040.



Para todos os cenários, considerou-se que o investimento total por Wp cairá à taxa média de 4,87% ao ano em dólares, conforme estimativa de relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos (FELDMAN, 2015). Para fins comparativos, o preço dos módulos fotovoltaicos caiu por volta de 22% ao ano em dólares desde 2008. Para fins deste estudo, foi considerada taxa de câmbio do Banco Central do Brasil (BACEN) de R$ 3,2034/US$ (BACEN, 2017).


Ponderando capacidade instalada, cronograma de entrada em operação e investimento dos projetos, obteve-se, conforme gráfico a seguir, a estimativa de investimentos para o segmento em geração centralizada. Essa projeção chega a um investimento em geração solar fotovoltaica centralizada de R$ 70,8 bilhões no Brasil até 2040 para o Cenário Projeção Base, R$ 87,4 bilhões para o Cenário ANEEL e EPE, e R$ 109,8 bilhões para o Cenário Otimista, a valores com data-base de janeiro de 2017 (em termos reais).



É importante frisar que projeções de investimento são muito sensíveis a variações de mercado, em especial, no segmento solar, cujo ciclo tecnológico tem muito a evoluir, principalmente no Brasil, com todas as incertezas inerentes a um segmento em fase inicial de desenvolvimento. Variáveis como demanda dos leilões da ANEEL, taxa de câmbio, política de conteúdo local do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tributação sobre componentes importados do módulo fotovoltaico, valor de venda do módulo fotovoltaico fabricado no exterior em US$/ Wp, evoluções tecnológicas, dentre outros fatores, podem alterar para mais ou para menos tais projeções.

GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

Conforme citado anteriormente, para 2040, a Bloomberg projeta que 75% da capacidade instalada no Brasil de geração fotovoltaica seja em geração distribuída, equivalente a pelo menos 82 GWac. Além disso, a cada ano que passa, o número de instalações solares fotovoltaicas no Brasil se multiplica, apesar dos obstáculos tributários, regulatórios e de financiamento ainda presentes no segmento.

Novamente, como a publicação do PDE 2025 foi postergada pela EPE, utilizamos três cenários de projeção: (i) a projeção da Bloomberg New Energy Finance (BNEF, 2015b); (ii) a projeção do Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 Referência; e (iii) a projeção do PNE 2050 Novas Políticas.

Projeção Bloomberg

A projeção Bloomberg utilizada foi a publicada no “New Energy Outlook de  015”, com algumas atualizações, já considerando os dados de capacidade instalada de 2016, publicados pela ANEEL em janeiro de 2017.

Projeção PNE 2050 Referências

A projeção PNE 2050 Referências emprega como base o relatório publicado em janeiro de 2016, utilizando as premissas referência da EPE, ou seja, o cenário realista baseado nas políticas para o segmento atualmente vigentes. Como forma de conversão dos dados do documento que estão em GWp para os dados do gráfico em GWac foi considerado um ratio estimado de 1,2.




Para a projeção de investimentos, foi considerado que o investimento total por Wp em geração distribuída é 25% mais caro que em centralizada. Parte importante dessa diferença sendo explicada pela incidência do Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) sobre a aquisição dos sistemas fotovoltaicos – dada a não obtenção do benefício do Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI) (explicado em detalhes no capítulo 3) –, parte em função de ineficiências de escala, tanto na aquisição de bens, quanto em serviços.


Ponderando a projeção de capacidade instalada (em crescimento) e investimento por Wp dos sistemas (em queda), obteve-se a seguinte estimativa de investimentos para o segmento em geração distribuída.


O resultado desse estudo projeta, portanto, no Cenário da Bloomberg um investimento acumulado de R$ 230 bilhões em geração solar fotovoltaica distribuída no Brasil entre 2017 a 2040, enquanto o Cenário Referência do PNE 2050 considera R$ 100,9 bilhões para o mesmo período. Todos os valores projetados consideraram data-base de janeiro de 2017 (em termos reais). Vale ressaltar que, em 2027, o incremento de investimento anual atingiu seu pico, dado que é estimada redução de custo do sistema fotovoltaico de 4,87% ao ano, enquanto existe uma redução no ritmo do incremento de projetos a partir dessa data, fazendo com que o investimento anual decresça.

Importante destacar que, tanto para a geração centralizada quanto para a distribuída, as projeções de investimento referem-se única e exclusivamente aos sistemas e usinas geradoras de eletricidade. Juntos, esses investimentos totalizariam no pior dos cenários R$ 171,7 bilhões e no melhor dos cenários R$ 339,8 bilhões até 2040. Adicionalmente, os investimentos nessas unidades geradoras movimentarão toda a cadeia de valor do segmento, conforme será discutido no capítulo 14.

Fonte: Sebrae



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