Energia
solar, em um país famoso por seu clima ensolarado, parece inevitável. Em grande
escala, a geração de energia fotovoltaica já é uma realidade no Brasil e,
apesar de representar menos de 1% da matriz
de energia elétrica, leilões recentes a colocaram em temos competitivos com
outras fontes de energia e a expectativa do governo é que ela cresça
significativamente ao longo dos próximos 10 anos.
Como
fonte de geração de energia bastante intermitente, ela exige uma
abordagem diferente para o planejamento e a operação de sua capacidade, em um sistema que até recentemente estava acostumado à quase total flexibilidade operacional das usinas hidrelétricas.
abordagem diferente para o planejamento e a operação de sua capacidade, em um sistema que até recentemente estava acostumado à quase total flexibilidade operacional das usinas hidrelétricas.
No
entanto, ela ainda é uma fonte de energia centralizada, o tipo de fonte para o
qual o sistema atual e a regulamentação foram projetados.
Este
artigo trata da natureza potencialmente disruptiva da geração solar
distribuída.
Uma
revisão recente das regras do sistema de compensação de energia elétrica (net
metering) pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a introdução de
novos planos de incentivos pelo governo ativaram um segmento de mercado que
poderá rapidamente crescer
para uma porcentagem significativa da capacidade instalada de geração no
Brasil. A perspectiva é que este segmento avance rapidamente, podendo chegar
até 5% da capacidade instalada, com impactos
desproporcionais em empresas de energia elétrica e em suas economias assim
como aconteceu em outros mercados.
Cenário Local
O
Brasil desfruta de muitos dos elementos que conduziram um crescimento
significativo do uso de energia solar em outros países. A alta radiação solar,
as tarifas de eletricidade cobradas em uma base puramente variável e um
crescimento esperado no consumo de energia
em longo prazo colocam o Brasil entre os mais promissores mercados de energia
solar do mundo. Desde que a ANEEL revisou as regras de net metering em dezembro
de 2015, a grande maioria dos estados brasileiros alcançou a
paridade de rede,
isto é, quando a fonte de energia alternativa tem o custo inferior ou igual ao
preço de compra diretamente de uma concessionária de energia elétrica. Isso
resultou em um aumento de quatro vezes mais em
instalações de energia solar até setembro de 2016, indo de aproximadamente
1.150 a 5.000.
Ao
mesmo tempo, diversos fatores podem atrasar a adoção e crescimento do mercado:
• Custo dos sistemas de geração solar
distribuída: Apesar de os custos terem caído globalmente, impulsionados
pela crescente demanda, as taxas, tarifas e custos de importação no Brasil
afetam o preço
total do sistema, que chega a ser aproximadamente 30% mais alto que na Alemanha
– apesar da renda média no Brasil ser cerca de um terço da renda média desse
país. Em razão disso, clientes
podem
ser desencorajados pelo tamanho do investimento inicial.
• Ambiente macroeconômico: A atual crise econômica
do Brasil junto com as altas taxas de juros impactam negativamente na confiança
do consumidor, no empréstimo pessoal e no investimento;
• Ambiente Incerteza sobre os preços futuros
de eletricidade: O investimento em um sistema de telhado solar é, em sua
essência, uma aposta sobre um eventual aumento do preço da energia. No entanto,
é muito difícil prever o aumento ou redução dos valores para o consumidor final
em razão do contexto complexo e instável do país, o que
tende a desencorajar investimentos. Um exemplo disso é que após 5 anos de
aumento regulares de preços, duas empresas de distribuição de energia em São
Paulo - CPFL Piratininga e EDP Bandeirante - reduziram os preços para clientes residenciais
em aproximadamente 20% em 2016.
Além
desses fatores de mercado, algumas disposições na regulamentação atual também
podem limitar a atratividade de investimento em um sistema solar fotovoltaico:
• Limite máximo no porte do sistema solar: A
capacidade instalada não deve exceder o pico de consumo de carga do local ou da
demanda contratada. Isso tem efeito de fato na limitação do uso de sistemas de
energia solar descentralizada para o consumo próprio, ao invés de maximizar o potencial
de geração e exportações para a rede, em
particular para grandes consumidores comerciais e industriais.
• Revenda direta não permitida: Além de não poder ser remunerado por exportar à rede mais energia
do que o consumo atual, também não é permitido ao proprietário a venda de energia
para terceiros.
Mesmo
assim, diversas novas empresas e modelos de negócios surgiram no Brasil,
geralmente com a promessa para clientes residenciais desfrutarem dos benefícios
dos sistemas de geração solar ao mesmo tempo em que reduzem os riscos associados
com o investimento inicial.
Além
das tradicionais opções de arrendamento e financiamento,
há,
por exemplo, alternativas em que os custos são arcados pela empresa que então
garante uma redução na conta de energia elétrica, dos quais uma comissão mensal
é devolvida pelo cliente. Em outros países, o aluguel do espaço do telhado e a revenda
direta também auxiliam a atenuar o problema de investimento pela pessoa física.
Essencialmente,
esse recente ecossistema nasceu da premissa que a economia continuará a ser
favorável para a adoção de sistemas solares fotovoltaicos, e que o setor
continuará a crescer.
Os Motivos para a Adoção
Há
bons motivos para acreditar em uma perspectiva positiva para a geração solar
distribuída. Em dezembro de 2015, o governo brasileiro anunciou um programa de
incentivo nacional (ProGD) para o desenvolvimento da geração de energia por
meio de fontes distribuídas, com um foco especial nos sistemas solares fotovoltaicos.
Os incentivos fiscais incluem:
•
Isenção de ICMS e PIS/COFINS sobre a energia injetada na rede elétrica - é
importante ressaltar que a maioria dos estados, desde então, já ratificaram a
isenção do ICMS da energia elétrica.
• A
redução de 14% para 2% na alíquota do Imposto de Importação incidente sobre
bens de capital destinados à produção de equipamentos de geração solar
fotovoltaica até o final de 2016.
Espera-se
que isso seja estendido para os próximos anos.
Além
disso, e talvez mais importante, o programa estabelece as bases para a futura
venda direta de energia excedente no mercado liberalizado, sujeito a um estudo
de viabilidade e impacto, e propõe a criação e expansão de linhas de crédito
para projetos de geração distribuída, abordando um tópico para o desenvolvimento
do mercado.
Com a
continuação da atual agenda de estímulos - seja ela explícita, como as isenções
fiscais mencionadas, ou implícita, incorporada na estrutura variável da tarifa - e com a inovação contínua dos fabricantes e prestadores de
serviço deste ecossistema melhorando sua oferta, parece quase inevitável que a
geração distribuída não surja como uma significativa fonte de produção de
energia na próxima década.
Possíveis Cenários
Para
avaliar o futuro desenvolvimento e penetração da geração distribuída de energia
solar, criamos três cenários de crescimento, considerando as possíveis combinações
de alavancas regulatórias e políticas para apoiar o desenvolvimento do mercado,
que incluem a manutenção dos incentivos mencionados para reduzir os custos de
financiamento, a redução das taxas de importação para equipamentos de geração
solar fotovoltaica e a isenção do ICMS e PIS/COFINS sobre a eletricidade
inserida na rede da distribuidora. Eles incluem até, em um cenário mais otimista,
a introdução de créditos fiscais para novas instalações e a isenção do ISS para
as instalações de
sistemas
de energia solar fotovoltaica.
No
entanto, para efeito do nosso estudo, consideramos apenas os cenários
Conservador e Moderado, uma vez que é provável que a ANEEL não permita que
ocorra um crescimento descontrolado sem
ajustar rapidamente as regras de net metering.
Dado o
grande interesse de empresas de tecnologia verde que estão recentemente
expandindo operações no Brasil para a fabricação de módulos de células PV solares
e o crescente mercado para prestadores de serviço de energia solar, não
esperamos, em qualquer cenário,
nenhum obstáculo da cadeia de suprimentos para o crescimento do mercado.
Resultados
No
cenário moderado, o nosso estudo sugere que a geração solar distribuída poderá
crescer mais rápido do que o previsto pelas autoridades do setor e representará
quase 5% da nova capacidade instalada no Brasil até 2024, atingindo cerca de 3
GW de capacidade instalada
e cobrindo cerca de aproximadamente 2% do pico de demanda – crescimento a
partir de uma base quase inexistente em 2016.
Dividindo
esse crescimento por região, observamos que São Paulo, apesar da irradiação
solar comparativamente menos favorável, será o principal estado na capacidade
instalada de geração até 2024. Isso é explicado em grande parte por níveis de
renda média superiores aos nacionais, o que contribui decisivamente para a
decisão de um investimento tão alto. A taxa de adoção pode chegar a
aproximadamente 1,5% da demanda total do estado, alinhado com a média esperada no
Brasil.
Rio de
Janeiro e Minas Gerais serão os próximos estados a terem maior capacidade
instalada de geração solar distribuída, de acordo com os nossos estudos.
Ambos
desfrutam de alta irradiação solar e preços de varejo de eletricidade
relativamente altos. Assim, esperamos que até 2024 instalem uma capacidade
total de 0,5 GW e 0,2 GW de geração solar distribuída e alcancem taxas de
adoção de cerca de 3% e 2% da demanda total, respectivamente.
Esses
cenários não levam em consideração as possíveis revisões das regras de net
metering, que a ANEEL já sinalizou que poderiam ser consideradas no caso de
rápida aceitação da tecnologia, nem a eliminação dos estímulos à geração solar
distribuída no curto prazo. De fato, sem o plano de net metering atualmente em
vigor, praticamente nenhuma região do Brasil estaria em paridade de rede.
Incentivos fiscais, sejam por meio da remuneração da energia injetada na
rede ou por meio da redução dos custos de importação de equipamentos de geração
solar fotovoltaica, são cruciais para o futuro da energia solar distribuída no
país. De acordo com os nossos estudos, esses incentivos são equivalentes a um
desconto de 20% no custo nivelado de eletricidade a partir de fonte solar.
Desta
maneira, esperamos um crescimento vigoroso de 40 a 50% ao ano em média da
geração solar distribuída, resultando em uma penetração significativa em uma
década e na consolidação de um “ecossistema solar” no Brasil.
Essa
penetração afetará vários aspectos do atual contexto energético. As empresas de
energia elétrica tradicionais podem estar entre as mais impactadas.
O Impacto da Geração Distribuída Nas
Empresas do Setor
As
distribuidoras de energia enfrentam uma série de ameaças pela proliferação da
energia solar distribuída em suas áreas de concessão. A primeira é derivada da
queda das receitas de varejo e distribuição provenientes da geração distribuída
de energia solar. Cada unidade de energia gerada por um sistema solar descentralizado
reduz a demanda na rede de energia proveniente de fontes centrais de geração
(conhecidas como “carga líquida total”). No Brasil, com uma tarifa quase
puramente variável para clientes residenciais,
uma
carga líquida mais baixa significa que as concessionárias terão
uma redução na receita das tarifas de energia elétrica destinada a pagar os
custos de manutenção e operação da rede elétrica e da geração, que são
tipicamente fixos.
Uma
segunda ameaça potencial está associada com o aumento da volatilidade da carga
induzida pela geração distribuída de energia solar e a tensão operacional que
ela pode criar na rede. Quando a produção de energia descentralizada excede o
consumo local, a energia
reflui para as redes, resultando em sobrecarga e flutuações de tensão, para as
quais essas redes podem não estar adequadamente projetadas. Além disso, os
níveis acentuados de flutuação da demanda da rede perto das horas de pico
levantam problemas de equilíbrio
do sistema elétrico que nem sempre são facilmente resolvidos pelas tecnologias
tradicionais de controle centralizado.
Podemos
estar longe de um cenário em que haja um risco significativo, considerando os
níveis de penetração da geração distribuída que estamos antecipando, mas é algo
a se manter em mente à medida que as empresas de energia planejarem seus
futuros investimentos, especialmente se houverem concentrações regionais de
geração distribuída solar.
Para
lidar com esses desafios, que se tornarão mais frequentes e graves conforme o
aumento da penetração de energia distribuída, serão necessários investimentos na
rede elétrica. No entanto, com o atual modelo de net metering, um número cada
vez menor de consumidores irá contribuir para esses investimentos.
Acreditamos
que será uma questão de tempo até que as empresas brasileiras de energia
elétrica brasileiras enfrentem esses desafios. Neste contexto, é essencial que
elas desenvolvam uma abordagem proativa em relação à energia descentralizada,
considerando não apenas os desafios operacionais e regulatórios, mas também as
pressões e oportunidades de negócio.
Lições de Outros Países
A experiência
em outras regiões sugere que as empresas de energia elétrica estão em melhor
situação quando antecipam o crescimento da energia solar distribuída.
Com a
diminuição das receitas, empresas de energia elétrica tendem a buscar a
recuperação de seus custos, pedindo um aumento nas tarifas de energia para os
consumidores convencionais. Isso cria um subsídio cruzado implícito entre os
dois grupos de consumidores, os que produzem energia descentralizada e os que
não, e aumenta ainda mais a relativa atratividade dos sistemas de energia solar
descentralizados, alimentando um ciclo vicioso. Em uma escala grande o suficiente,
as companhias elétricas terão mais dificuldade em persuadir as agências
reguladoras e o governo a protegerem as suas receitas à custa dos consumidores convencionais.
Em
outros mercados, especialmente nos Estados Unidos, algumas companhias tiveram
uma abordagem de confronto, buscando ativamente medidas regulatórias contra a
geração distribuída. Diversas empresas tentaram se opor ao net metering,
implementar limites de tamanho do sistema solar ou reduzir a compensação líquida
da energia inserida na rede elétrica. Outras tentaram medidas mais amplas, como
o aumento da parcela fixa na estrutura de tarifas ao cliente final ou na
introdução de tarifas de energia solar específicas para geradores distribuídos.
Se
expandirmos essa discussão para termos mais amplos, a noção de venda de kWh
pode ser intuitiva para as empresas de distribuição e agências reguladoras, mas,
do ponto de vista do cliente, o que está realmente sendo comprado é a luz, o
conforto. Como tal, mecanismos de formação de preços alternativos poderiam ser
explorados, como é o caso de alguns players internacionais que optaram pela
estratégia de introduzir tarifas totalmente fixas, principalmente quando a
geração em sua maioria é por custo fixo (por exemplo, energias renováveis e
nuclear).
No
entanto, muitos desses esforços tiveram resultados mistos. Algumas empresas
enfrentaram reações negativas dos legisladores, e também de clientes: suas posições
regulatórias impactaram negativamente na percepção da marca e lealdade do
cliente.
Por
outro lado, um modo passivo de “esperar para ver” também dificilmente tem sido
uma estratégia vencedora. Já que expõe as empresas de energia elétrica ao risco
de redução de receitas e “perda” da oportunidade de negócios criada pelo
surgimento da geração distribuída solar. Por exemplo, no estado de Nova
York nos Estados Unidos, as empresas não responderam claramente às tendências emergentes
e tiveram um papel passivo na condução da agenda de políticas regulatórias na presença
da crescente penetração de energia solar distribuída. Nesse contexto, os reguladores
estaduais propuseram a iniciativa de
“Reformar
a Visão Energética”, com o objetivo de rever os sistemas de geração e
distribuição do estado.
O
objetivo era forçar as empresas de energia elétrica a operar apenas como
“plataformas do sistema de distribuição”. De acordo com a estrutura regulamentar proposta, as empresas de energia elétrica atuariam como provedores
de plataformas, com a obrigação, mas também com incentivos financeiros, de
suportar o uso de sistemas de energia distribuída.
Com
isso, as empresas teriam oportunidades legais limitadas de possuir sistemas de
energia distribuída além do armazenamento de energia para operações do sistema,
e podem ter perdido a oportunidade de apropriar-se do valor de um mercado em
crescimento e transformação energia aumentem sua base de ativos regulados e, portanto,
suas receitas.
Possíveis Implicações no Brasil
Algumas
empresas de energia elétrica no Brasil já estão antecipando a tendência,
fazendo três séries de perguntas:
•
Posicionamento de Negócio: Qual posição tomar na cadeia de valor da geração
distribuída?
•
Operações: Como preparar a rede para suportar a penetração da geração
distribuída em crescimento?
•
Regulação: Como garantir que o valor seja distribuído de forma justa entre
todos os agentes no mercado?
Para
desenvolver uma estratégia de geração distribuída, as empresas de energia
elétrica devem considerar em quais etapas da cadeia de valor elas querem estar presentes.
Uma opção seria focar em ativos, como as instalações solares em telhados ou
consórcios solares.
Elas
também poderiam oferecer serviços “por trás do medidor”, como instrumentos
avançados de medição ou armazenamento de energia. Além disso, outras opções
para as empresas de energia elétrica seriam ser facilitadoras de serviços de
terceiros ou competir como prestadores totalmente integrados.
O
valor econômico geral de um cliente de energia decentralizada é muito maior do
que o de um cliente convencional, assim que incluído o valor investido no sistema
de geração distribuída. As distribuidoras devem estar cientes desse fator na
hora de decidir qual parte desse valor elas devem se concentrar.
No
entanto, antes de desenvolverem a sua estratégia, as empresas de energia
elétrica precisam, primeiro, considerar como a introdução de novos modelos de negócios
pode afetar as atuais vendas de eletricidade no varejo e como elas podem
explorá-las de forma sustentável. Para isso, é necessário considerar uma ligação
clara entre sua estratégia de negócios e suas abordagens operacionais e
regulatórias para controlar ou permitir a energia descentralizada.
Apesar
do aumento da capacidade dos sistemas de geração distribuída, os sistemas de
distribuição continuarão sendo peças fundamentais das redes elétricas futuras.
O aumento da penetração da geração de energia solar intermitente afetará o
equilíbrio da rede e irá exigir investimentos em recursos de rede flexíveis e
inovadores, como soluções de rede inteligente, automação da rede, inversores
solares avançados e outras novas tecnologias.
Independentemente
de sua opção estratégica, as empresas terão de se adaptar e desenvolver novos
planos de investimento para melhorar a rede e reduzir o risco de ativos improdutivos
à medida que a demanda liquida da rede elétrica diminui. Isso exigirá uma abordagem
ativa desde o início para determinar as futuras necessidades e rever os planos
de investimento com as agências reguladoras e consumidores, com o objetivo de
garantir que todos estejam cientes dos próximos desafios e custos.
O
papel da gestão regulatória será crucial e deve considerar os impactos sobre o
valor da marca e fidelidade dos clientes. Ao invés de lutar contra a geração distribuída,
é mais aconselhável que as distribuidoras de energia procurem uma estrutura da
tarifa que reflita com mais precisão seus custos e que evite subsídios cruzados
entre os clientes.
A
tarifa totalmente variável no Brasil para os domicílios beneficia aqueles que
instalam por conta própria a geração distribuída à custa de todos os outros
consumidores que ainda dependem exclusivamente da rede. As distribuidoras de
energia devem exercer a sua influência para um desenho de tarifas que evite
subsídios cruzados e mantenha em um valor mínimo a tarifa de energia, enquanto
continua a permitir uma maior integração da geração distribuída na rede.
Há uma
série de abordagens para atingir esses objetivos, tais como contas de eletricidade
com um valor mínimo de consumo, taxas de acesso à rede ou mesmo modalidades
tarifárias com tarifas diferenciadas de consumo de acordo com a horas de
utilização que incentivam o uso de energia em momentos em que energia solar é
mais produtiva. De forma menos controversa, as companhias de energia elétrica
podem pressionar por regras técnicas mais rigorosas para novas instalações
distribuídas que facilitarão a operação da rede, como padrões avançados de
inversores solares.
A
adoção rápida de novas fontes distribuídas e a evolução das tecnologias
transformarão o setor de energia elétrica. A crescente ameaça competitiva agora
está em telhados de todo o Brasil. As empresas de energia elétrica tradicionais
enfrentarão um ambiente mais complexo com novas tecnologias, serviços e estruturas
de tarifas. Novas respostas, capacitações e modelos de negócios serão
necessários, com maior foco nos clientes e inovação.
Como
ponto de partida, acreditamos que há uma série de movimentos de baixo risco “sem
arrependimento” que as empresas de energia já podem realizar para se preparar
para essa potencial disrupção:
•
Buscar a excelência operacional para ganhar eficiência, reduzir custos, maximizar receitas em seus negócios tradicionais - garantindo preparo operacional
e econômico para melhor encarar os diversos desafios impostos pela geração
distribuída solar;
•
Pressionar por uma estrutura tarifária mais justa que ajude a recuperar os
custos da rede e a reduzir os subsídios cruzados, potencialmente incluindo um
componente fixo;
•
Identificar potenciais ativos de geração em risco para que eles não fiquem
“encalhados” na próxima década à medida que a demanda líquida eletricidade se reduz.
Antecipamos que as usinas termelétricas a gás natural, relativamente mais caras,
possuem maior risco de perder posição de mérito;
•
Revisar os planos de investimentos na rede para incorporar o perfil em mudança
da carga líquida da rede.
Pensando
no futuro, as distribuidoras de energia também devem se engajar em uma reflexão
profunda sobre seu posicionamento no espaço da geração distribuída, as vantagens
competitivas que elas desfrutam ou podem desenvolver - começando pelo acesso ao
capital, o valor da marca, experiência operacional e conhecimento de seus
clientes - e como melhor impulsioná-las para maximizar o valor da revolução da
geração distribuída para elas e seus acionistas.
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Fonte:
BCG
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